quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Pessoa e Vinho




Graves, da igreja, os sons do sino são.

Dão-me vontade de pedir perdão.

Mas não é Ao que lembram sons de sinos:

É a Outra Cousa que procuro em vão.

Já me cansei de ouvir dizer farei.

Quem de fazer, ou não fazer, é rei?

Animal a quem a alma foi imposta,

O homem dorme irrequieto.

Mais não sei.

Que bom se a infância fosse de guardar!

Que bom se a vida fosse de parar!

Mas bom, sem fosse, é o vinho que se bebe

Sem nenhuma intenção de ter ou 'estar.


PESSOA, F., 1997, Canções de Beber na Obra de Fernando Pessoa, Edições de Arte, Lda., Lisboa, p. 28 [13-5-1931]

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